ISMAEL DÍAZ: “ESTOU A VIVER O SONHO”


26-04-2016

Autor do segundo golo contra o Sporting de Braga B, começou a jogar nas ruas do Panamá inspirado pelo “Fenómeno”

Texto: Tiago Soares
Talento mais promissor de umanova geração de jogadores panamianos, Ismael Díaz aterrou no Porto em julho [de2015] com a mala cheia de sonhos. O extremo, que evolui às ordens de LuísCastro no FC Porto B, ainda com idade de júnior (18 anos), tem um discursovirado para a equipa e, acima de tudo, adulto, de quem sabe o que quer. Ementrevista à “Dragões”, na qual passou em revista o seu percurso e o verdadeiro“sonho” que está a viver, com a equipa principal ali tão perto, “Isma” assumeque ainda está a adaptar-se e garante a intenção de deixar a sua marca no clubeque lhe interrompeu um jogo na PlayStation.
Para os adeptos que ainda não o conhecem, como sedefine enquanto jogador?
Sou um jogador que sepreocupa muito com os seus companheiros, que estejam bem dentro e fora decampo, que o grupo esteja unido e que sejamos como uma família. Sou um jogadorque gosta de entrar em campo e fazer golo e apoiar a sua equipa em todos osmomentos para sermos mais fortes.
Sempre foi avançado?
Em pequeno jogava comoextremo. Nos escalões mais jovens do Tauro FC joguei a avançado e ultimamente,com a seleção, joguei a “médio-ponta”, por trás do avançado, perto dos terrenosdo “10”. Com o mister Luís Castro estou a jogar de novo a extremo. Não é fácil,já não jogava nesta posição há muito tempo, mas pouco a pouco estou aadaptar-me à mudança e é isso que se quer.
A “Dragões” ouviu dizer que teve uma estreiaauspiciosa como sénior pelo Tauro FC, a 2 de Setembro de 2012, contra o Alianza…
Tinha 15 anos e a verdade éque nessa altura não acreditava na hipótese de me estrear tão cedo, achava que erademasiado novo para jogar futebol profissional. Lembro-me que um dia estava ajogar com a equipa B e o treinador da equipa chamou-me e perguntou-me segostava de jogar na primeira divisão. Fiquei muito surpreendido com a pergunta,não acreditava mas aceitei… E foi verdade. Estava muito ansioso e nervoso masconsegui entrar bem. Entrei ao minuto 70, com o jogo empatado a zero, e apósoito minutos cabeceei uma bola que bateu no poste e entrou. Fui festejar àlinha lateral, festejei com o meu pai. Nem queria acreditar que aquilo tinhaacabado de acontecer!
O futebol no Panamá não é muito conhecido na Europa.Como o caracteriza?É um futebol que está a crescer e amelhorar a cada dia. Não é um futebol muito conhecido na Europa, realmente, temapenas “nome” na América, onde já alcançou um nível mais elevado. É um futebolrápido e de pressão, em que há excelentes jogadores e de muita qualidade, masque não têm grandes oportunidades de jogar na Europa. Eu tive essa sorte equero aproveitá-la. O jogo praticado cá é mais ofensivo, rápido, com maisprecisão, mais forte e pouco a pouco vou-me adaptando ao ritmo de Portugal. Esperoconseguir dar o melhor de mim e poder abrir portas a mais panamianos.
Já teve duas experiências em Mundiais. O primeiro foienquanto Sub-17, em 2013, ainda com 15 anos…
Sim, nos Emirados ÁrabesUnidos fui com os Sub-17, que correu muito bem, e com os Sub-20 agora neste ano[2015], na Nova Zelândia. Não correu como queria, mas tratei de fazer o melhor.Deus sabe porque as coisas se passam e tratei de continuar a melhorar todos osdias.
Em entrevista à FIFA, antes do Mundial de 2015, disse quefora do campo a vida também era futebol e que se dedicava também a treinarsozinho. Porquê?
Uma das coisas que eu tenhosempre presente na minha mente é melhorar a cada dia que passa. Quero sermelhor, quero ser o número um e, para isso, não basta trabalhar no campo.Quando estou em casa procuro trabalhar para melhorar, dentro das possibilidadesque tenho, e o resto do tempo passo-o com a minha família.
Afirmou também que precisa de “trabalhar para que aidade não importe”. Isto tornou-se especialmente verdade aqui no FC Porto B?
Quase em toda a minha vidajoguei com jogadores mais velhos do que eu. Sempre fui o mais novo da equipa etentei compensar essa diferença com trabalho, para poder melhorar. No Panamá oritmo de jogo é realmente diferente do que aquele que é jogado cá. Cá sãojogadores muito mais profissionais e com um ritmo mais completo e rápido. Estaé a minha primeira experiência fora… Jogar noutro país, numa liga como é asegunda divisão de Portugal… É claro que estou impressionado, mas sei que tenhomuito que trabalhar e é isso que eu tenho feito.
“NO PANAMÁ O FC PORTO É VISTO COMO UM DOS MAIORESCLUBES DA EUROPA”
Como foi o seu primeiro jogo como sénior no FC Porto B?
Como se tratou da minhaprimeira experiência num jogo em Portugal, senti-me um pouco ansioso e nervoso,porque não sabia bem o que se ia passar. Tentei gerir tudo isso e procureiestar mentalizado e concentrado para que corresse tudo bem. Sinto que foi umjogo muito regular e que pouco a pouco vou melhorar.
O que conhecia do FC Porto e qual foi a sua primeiraimpressão do clube?
No Panamá o FC Porto é umclube muito grande. É visto como um dos maiores clubes da Europa e, quandosurgiu a oportunidade de eu vir para cá jogar, não acreditei… Pensava que erauma brincadeira. Mas quando me apercebi que era verdade, fiquei muitoimpressionado.

P
ode descrever-nos a sensação do primeiro telefonemaem que soube da intenção do FC Porto de o contratar?
Lembro-me que nesse momento estavaa jogar PlayStation com o meu irmão. Só me lembro de imaginar e perguntar a mimpróprio: “Como te sentirias por estar numa equipa assim? Como te sentirias atreinar com uma equipa destas?”. Passado uns meses, estou aqui, treinei com aequipa A, estou na equipa B… Estou a viver o sonho. Quero continuar a crescer ea conquistar mais metas.
Como reagiram os que estão mais próximos de si?De facto, muita gente ficousurpreendida, porque o FC Porto é muito grande. A minha família deu-me osparabéns, ficou toda a gente muito contente. Foi um momento ótimo para mim.
“DEUS É A PRINCIPAL RAZÃO PARA EU ESTAR AQUI”
O que espera desta aventura? Que objetivos tem?
O meu primeiro objetivo estácumprido: chegar aqui. Estou a viver um sonho. Agora quero seguir com ospróximos objetivos: crescer, aprender mais com a equipa B e ter a oportunidadede chegar à equipa A. Com trabalho tudo se consegue… Quero crescer como pessoae como futebolista.
O que pode prometer aos adeptos?
Vou dar o melhor de mim. Voutrabalhar duro para continuar a crescer e ser o melhor. Quero contribuir paraajudar o FC Porto a crescer ainda mais e quero ser recordado no FC Porto.
Tem receio de comparações com atuais ou antigosjogadores do FC Porto?
Admiro muito os jogadores doFC Porto, via muitas vezes jogos do clube no Panamá, mas vejo sempre o que cadaum faz bem e quero tratar de ser melhor. Quero ser melhor do que eles, quero melhorare, se é com trabalho que tenho que o fazer, vou trabalhar para isso a cada dia.Vou trabalhar mentalmente para ser melhor do que todos os outros.
Sente estar a um passo de realizar o seu sonho, com aequipa principal a treinar mesmo ali ao lado?
Sim, é um sonho, porque viaos jogadores na televisão e na PlayStation e agora estou perto deles. Treineicom o Casillas, com o Maicon, o Brahimi, o Evandro, o Helton... São jogadoresque admiro muito. Nunca pensei que isto fosse possível, mas a verdade é que comtrabalho e fé tudo se consegue. Para mim, é um verdadeiro sonho estar aqui.
Na sua conta de Instagram, quando assinoupelo FC Porto, e mesmo durante esta entrevista, falou de Deus. É omnipresentena sua vida?
Para mim é o maisimportante e a principal razão para eu estar aqui. Antigamente havia muitas pessoasinteressadas em mim… Depois do Mundial de Sub-20 não tive mais propostas,senti-me triste, porque queria seguir com o meu sonho de jogar na Europa, masnunca perdi a fé em Deus e sempre acreditei que algo ia acontecer. E aconteceuo FC Porto… É impressionante. A fé é fundamental para mim.
Com quem se dá melhor no plantel?
Com o capitão FranciscoRamos, com o André Silva, que é um excelente jogador, o Omar Govea, o LeonardoRuiz... É mais fácil entender-me com quem fala espanhol, mas relaciono-me namesma com quem fala português. Não é uma língua muito difícil e é parecida como espanhol. Percebo muitas palavras e comunico bastante com eles.
Fã do “Fenómeno”
Nasceu num pequeno bairroda Cidade do Panamá, chamado Don Bosco, mas a alcunha “Isma” é muito recente, daautoria do treinador Luís Castro, que lhe chamouassim durante um treino. Oseu ídolo de pequeno era Ronaldo, o Fenómeno, e foi inspirado nos movimentosdele, “na precisão que tinham os seus golos”, que começou a jogar futebol narua. A escola Los Bravos de Tocumen foi aprimeira casa do seu futebol perfumado, passando depois para o Tauro FC, em quese estreou como profissional. Com uma existência baseada no Panamá, define como “estranho” o período de adaptaçãoque está a viver e admite que tem “saudades” da sua família e dos amigos, masreafirma que tem “metas muito bem definidas” e que vai “trabalhar paraalcançá-las”.
Fascinado
A cidade do Porto, diz,“fascina”, pois “é muito tranquila e tem muitos lugares bonitos”, onde gosta depassear com a namorada, que o acompanha nesta aventura. Admite que gosta dagastronomia e da comida de Portugal, elegendo bacalhau, lombo e francesinhacomo os pratos que mais lhe agradaram.
Quer a camisola 10
Está a usar o 47 nacamisola, mas confessa ter uma ambição diferente: “Desde pequeno, não seiporquê, gostava de usar o número 10. Usei-o no Mundial de Sub-17 e sinto quesou um jogador que pode fazer muitas coisas com esse número. Mas vou usar o 47,não tenho qualquer problema com isso”.
Entrevista publicada na rubrica "Lado B" da edição de outubro de 2015 da revista Dragões, publicação oficial do FC Porto que pode subscrever aqui.
FcPorto e Os Amigos

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