Análise da estratégia de defesa da SAD do Benfica no E-toupeira – Parte 1

Novos documentos foram revelados no Mercado de Benfica. Estes documentos não são provenientes de caixas de correio de elementos do Sport Lisboa e Benfica mas são referentes ao trio de advogados que representa a SAD encarnada no processo E-toupeira.Num dos documentos encontra-se a tese da defesa dos encarnados relativa à acusação do crime de corrupção e esta centra-se nos seguintes pontos:

  • Os ofertas podiam ser dadas sem qualquer tipo de conhecimento da SAD do Benfica, sendo esse ponto apoiado por Nuno Gago, gestor de eventos e responsável de ligação aos adeptos do Benfica.
  • As ofertas têm valor diminuto, sem valor patrimonial e são reconhecidas e socialmente aceites no mundo do futebol.
Os ofertas podiam ser dadas sem conhecimento da SAD

Segundo a defesa do SLB qualquer elemento com responsabilidade na estrutura benfiquista pode, a qualquer momento, dar convites para qualquer pessoa sem dar conhecimento aos responsáveis máximos da SAD encarnada. Esta tese é falsa se tivermos em conta os vários e-mails que vieram a público ao longo dos últimos meses.

Em 2010 existia um regulamento interno para a oferta de convites. Os convites tinham de ser validados previamente por Luís Filipe Vieira.

Um e-mail de 2017 prova que Paulo Gonçalves ainda tinha de informar Luís Filipe Vieira sobre os convites suplementares oferecidos por este, poucos meses antes dos primeiros convites oferecidos à toupeira José Silva.

Cerca de duas semanas antes desse email, Paulo Gonçalves tinha feito um pedido de convites à Ana Zagalo, onde se incluia a toupeira Júlio Loureiro.

(Imagem retirada do blogue Mister do Café)
Como podem verificar Luís Filipe Vieira também se encontrava em cópia neste email, e ainda enviou um email a Ana Zagalo para apressar o pedido.

Como é óbvio não é possível ser sério ao acreditar que Luís Filipe Vieira não tinha conhecimento das ofertas dos bilhetes às diversas toupeiras.

Incrivelmente, para apoiar esta tese, a defesa do Benfica utiliza como testemunha Nuno Gago, oficial de ligação aos adeptos e gestor de eventos. Nuno Gago é, com certeza, um dos indivíduos com melhor espinha dorsal na estrutura benfiquista, como fica comprovado no seguinte e-mail.

Sem dúvida um exemplo de integridade. Nuno Gago tem uma grande proximidade com o Presidente do Benfica, pois graças a este conseguiu emprego no Benfica. Para quem não sabe, Nuno Gago era (é) um dos altos quadros da claque No Name Boys e, inclusive, teve uma reunião com Luís Filipe Vieira dois anos antes de ingressar no Benfica, pedindo mais regalias e poder para os No Name Boys. O pedido foi concedido e Nuno Gago até recebeu um utensílio extra: um tacho (podem ler mais sobre o assunto Nuno Gago aqui)

Para além disso, Nuno Gago representou o Benfica na Assembleia da República ao lado de Luís Filipe Vieira aquando do debate sobre violência no desporto no final da época passada (aqui) .

Nuno Gago é o espelho de uma testemunha íntegra e independente que nunca mentiria para proteger o clube que o acolheu de braços abertos.

As ofertas têm valor diminuto, sem valor patrimonial e são reconhecidas e publicamente aceites no mundo do futebol

Segundo a defesa Benfiquista os bilhetes, convites e camisolas têm valor diminuto e têm uma adequação social, sendo as ofertas feitas pela generalidade das entidades desportivas e não só.

Esta tese cai por terra por diversas razões. O trio de advogados do Benfica utiliza vários regulamentos para demonstrar que existe uma adequação social para a oferta de bilhetes e merchandising. Os códigos de conduta e regulamentos usados para justificar a tese do Benfica foram do Governo, da FIFA e da UEFA. Tudo isto é muito bonito mas estes regulamentos são feitos para que os elementos que constituem a FIFA, o Governo ou a UEFA, ou que estejam relacionadas com estas entidades, sejam imparciais no exercício das suas funções. Ora, as ofertas feitas a José Silva, a principal toupeira deste caso, não pode ser equiparada com este tipo de regulamentos porque a sua função não incluía, em nenhum momento, a espionagem de processos na plataforma Citius, assim como, o envio de informações ao Benfica. Neste caso não existe parcialidade de uma função, existe sim um crime feito por um acesso e envio de informações que não poderia ser feito por um simples técnico informático. Portanto, estes regulamentos não podem ser utilizados para justificar a adequação social destas ofertas porque não são minimamente equiparáveis.

Para além disso, o Benfica ainda justifica que as ofertas feitas, por jogo, a José Silva são inferiores às que são previstas nos regulamentos da UEFA. Isto é divertido, mas José Silva não tem qualquer ligação com essas entidades, não é nenhum agente desportivo, ou seja, o uso desses valores para justificar as ofertas é completamente utópico. Sendo José Silva um funcionário judicial o regulamento que mais se aproximaria seria o código de conduta do Governo, em parte referido abaixo.

Portanto, segundo o código de conduta do Governo, não se pode aceitar ofertas de valor superior a 150€ no decorrer de um ano civil. Fazendo um pequeno exercício sobre as ofertas feitas a José Silva, mesmo não sendo um regulamento adequado pelo facto das funções de José Silva não incluírem a violação do sistema judicial português, estás ultrapassaram, e muito, os 150 euros regulamentares.

Portanto, o uso destas regulamentos tanto pela adequação social, assim como pelos valores das ofertas, é completamente descabido.

Para além de usar os regulamentos, o Benfica ainda justifica a adequação social pelo facto de todos os clubes ofereceram bilhetes, tanto a amigos, como a entidades. Neste caso, volto a frisar que estes convites não são certamente oferecidos para violar o sistema judicial português.

Gostaria de frisar também a desvalorização feita pela defesa do Benfica às ofertas de bilhetes feita a José Silva por este ter um Redpass e não necessitar de bilhetes para assistir aos jogos em casa do Benfica. A defesa do Benfica deve-se ter esquecido que quatro bilhetes por jogo eram garantidos a José Silva, enquanto que o Redpass é unicamente para um lugar. Para além disso, José Silva obteve lugares para o piso 1 do estádio da Luz que é considerado um dos melhores sectores do estádio. E, inclusive, teve um estatuto diferenciado que o permitiu tirar fotografias com alguns dos seus ídolos em diversos pontos das infraestruturas do estádio da Luz.

Ao analisar a estratégia utilizada pela defesa do Benfica fiquei com ainda mais dúvidas sobre a decisão tomada pela juiza Ana Peres na semana passada. O Ministério Público recorreu desta decisão e parece ter a razão do seu lado.

 
FcPorto e Os Amigos
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