Lavagem de dinheiro, compra de jogadores e de juízes, escolha de árbitros. Os seis casos judiciais do Benfica



O universo benfiquista está, há um ano, a ser abalado por uma catadupa de processos judiciais. Chegou-se à meia-dúzia. Os encarnados rejeitam qualquer ato ilícito, mas a pressão motivada pelas denúncias e investigações permanece alta.


O Sport Lisboa e Benfica, mais do que títulos, tem colecionado, no último ano, uma série de processos de investigação criminal, todos eles ligados a casos ilícitos relacionados com o futebol.

São já seis, sendo que esta segunda-feira foi conhecido o último caso, denominado “Mala Ciao”, que liga os benfiquistas à compra de jogadores para perderem contra a equipa encarnada e para ganharem ao FC Porto.

Há de tudo um pouco nesta meia dúzia de processos, desde um alegado esquema de corrupção de arbitragem para beneficiar o Benfica, à ideia de fazer pagamentos fictícios para pagar menos impostos, o que pode configurar crimes como fraude fiscal e ou lavagem de dinheiro.

O Benfica está ainda indiciado da compra de jogadores para ganhar e perder jogos, em mais do que uma época desportiva.

Os encarnados têm negado sucessivamente o envolvimento em práticas ilícitas, mas os rivais continuam a afirmar que onde há fumo, há fogo.

Recordemos então um a um os casos de justiça que envolvem o clube da Luz e que deixam o Benfica debaixo do radar dos investigadores.

Caso dos emails

A 6 de Junho de 2017, o assessor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, anuncia, num programa do Porto Canal, estar na posse de vasta documentação que prova a existência esquema de corrupção na arbitragem para beneficiar o Benfica.
O diretor de conteúdos da Benfica TV, Pedro Guerra, era o alvo principal, juntamente com o ex-árbitro da Associação de Futebol de Braga Adão Mendes. Guerra é ainda acusado de monitorizar informação interna e auditorias da Federação Portuguesa de Futebol.

Um dia depois, a 7 de Junho, o Benfica reage às acusações e revela a intenção de avançar com um processo de difamação e calúnia e outros processos. Considera o clube da Luz que os e-mails servem para “desviar as atenções”.

Guerra também reage com um "delay" de três dias em relação à denúncia do caso. E diz que "que o Benfica vai continuar a ganhar, seja futebol, seja no basquetebol, no voleibol, no hóquei em patins, no andebol, no atletismo".

"É esta a resposta que tenho a dar. O Benfica continua a trabalhar, segue o seu rumo independentemente de toda a boataria, de todas as mentiras. O Benfica não pára", reforça Guerra, sem negar nem confirmar a veracidade dos e-mails.

Mais tarde, na TVI, Guerra acabou por admitir a existência dos e-mails, mas disse não se lembrar dos seus conteúdos.

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, também comenta e, num discurso em que o vernáculo foi pontuação, disse: "Em relação aos e-mails, desculpem falar à português, tanta m… e zero. Não temos medo de ninguém, nunca comprámos um filho da p... de um resultado".

O Benfica anunciará, depois, ações judiciais contra os presidentes do Sporting e do FC Porto, medida que será reforçada meses depois pelo facto de os encarnados se queixarem da violação da correspondência interna do clube. O assessor de comunicação do Benfica, Luís Bernard, diz que o Portugal não pode ser um “paraíso do cibercrime”.

Mais tarde na investigação, Francisco J Marques junta novidades ao caso: há mais correspondência eletrónica entre dirigentes do Benfica e elementos da arbitragem. Marques dá a conhecer a troca de e-mails entre o assessor jurídico da SAD do Benfica, Paulo Gonçalves, e o delegado da Liga de Clubes Nuno Cabral. Nesta correspondência, é pedido ao Benfica que mova influência para ajudar a carreira de árbitros, concretamente, neste caso, Manuel Mota.

Em outubro do ano passado, a PJ fez buscas na Luz, sendo Paulo Gonçalves constituído arguido.

O caso ganha cariz político quando o secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, afirma, em entrevista à Renascença, a intenção de vierem a ser previstas sanções e punições para discursos difamatórios ou acusatórios no futebol português .
Em fevereiro deste ano, o Tribunal de Relação do Porto dá razão ao Benfica e o FC Porto é impedido de continuar a revelar conteúdo dos e-mails.

Mais tarde, em abril, a revista Sábado avança novos conteúdos, entre os quais o de um "powerpoint" em que a Benfica SAD assumia, internamente, como objetivo, em 2012, o "reforço" e "controlo" sobre "conselhos de arbitragem", "poder político", "media" e "judicial".

A questão passou por uma reunião de quadros benfiquistas, realizada a 18 de Junho de 2012, em que essa mensagem foi passada através da apresentação desse "powerpoint".

E-toupeira

Em consequência do caso dos emails, nasce o e-toupeira. Paulo Gonçalves, assessor jurídico do Benfica, um técnico informático e um funcionário judicial são detidos pela Polícia Judiciária por suspeitas de corrupção ativa e passiva.

Alegadamente, Paulo Gonçalves terá subornado ou aliciado três funcionários judiciais para lhe fornecerem dados do chamado “caso dos e-mails”. Mais tarde, o número de arguidos subiu até sete.

Foram realizadas trinta buscas nas áreas do Porto, Fafe, Guimarães, Santarém e Lisboa que levaram à apreensão de "relevantes elementos probatórios".

Nesta investigação, iniciada há quase meio ano pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ, averigua-se "o acesso ilegítimo a informação relativa a processos que correm termos nos tribunais ou departamentos do Ministério Público a troco de eventuais contrapartidas ilícitas a funcionários".

O Benfica diz manter a confiança em Paulo Gonçalves e reitera que o clube agirá judicialmente sobre os clubes que ponham em causa o bom nome do Benfica.

Já o presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, numa entrevista à revista Dragões fala sobre a suposta "rede de tentáculos a todos os títulos vergonhosa" do Benfica, que a "operação e-toupeira" veio expor mais ainda.

Neste processo, há uma nova ramificação política com a revelação de um documento em que o primeiro-ministro, António Costa, pede bilhetes para os seus filhos, na altura em que era presidente da Câmara de Lisboa.

Caso Aliciamento

A Polícia Judiciária (PJ) e o Ministério Público (MP) investigam todos os jogos realizados pelo Benfica, para a Liga, nas últimas cinco épocas. Em causa estão mais de 160 jogos.

O caso começa por se reportar a um jogo entre Benfica e Rio Ave, mas, mais tarde, junta-se-lhe o jogo com o Marítimo da mesma época: 2015-2016.

Segundo uma reportagem da SIC, um jogador do Marítimo revela que dois homens, entre os quais o empresário César Boaventura, marcam um encontro no Pestana Casino Park Hotel, na Madeira, em vésperas da equipa madeirense defrontar a da Luz. Oferecem-lhe 40 mil euros para não jogar como o habitual. O jogador recusou a oferta e diz que nunca mais os viu. Os homens nunca se identificaram durante a conversa.

Ao mesmo tempo, também o Sporting é acusado de ter pagado 40 mil euros à equipa insular para que ganhasse esse jogo ao Benfica.

Operação Lex

A investigação visa o juiz desembargador Rui Rangel, ex-candidato à presidência do Benfica, e implica o atual líder dos encarnados, Luís Filipe Vieira. São os pontos de partida para a Operação Lex, uma grande investigação Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária (PJ).

A investigação surgiu a partir de uma certidão extraída da Operação Rota do Atlântico, na qual há dois arguidos em prisão preventiva: José Veiga, ex-empresário de jogadores, e Paulo Santana Lopes, irmão do antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes.

A PJ fez 33 buscas, entre as quais na casa e no gabinete de Rui Rangel, na SAD do Benfica e na casa do Vieira. Nas palavras da Procuradoria-Geral da República, estão em causa suspeitas dos crimes de “corrupção e recebimento indevido de vantagem, branqueamento de capitais, tráfico de influências e fraude fiscal”.

Os juízes Rui Rangel e Fátima Galante encabeçam a lista que conta já com 12 arguidos. São ambos desembargadores - juízes de um tribunal de segunda instância - no Tribunal da Relação de Lisboa.

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, terá prometido lugares de destaque no clube ao juiz Rangel, com quem comunicava em código, segundo a revista "Sábado". O líder encarnado usava o código "IC19", designação da via que liga Lisboa e Sintra, para comunicar com Rangel, quando se referia à alegada promessa do juiz de intervir no litígio fiscal de 1,6 milhões de euros que a empresa de Vieira tinha com o Fisco.

Em troca Vieira prometia um cargo remunerado na futura direção da escola e universidade do Benfica. Rangel passaria, ainda, a ser um "convidado VIP" das viagens do clube ao estrangeiro, a contar para as competições internacionais.

Suspeitas de lavagem de dinheiro

O alerta bancário sobre a transferência de 1,89 milhões de euros do Benfica para uma consultoria informática e o posterior levantamento do dinheiro está na origem da investigação que foi espoletada por um alerta bancário. O depósito de uma grande quantia e o imediato levantamento da mesma motivou o alerta às autoridades.

De acordo com o Jornal de Noticias deu a conhecer, existe no Benfica um esquema para pagar menos impostos que pode configurar o crime de fraude fiscal e o de lavagem de dinheiro.

Fonte oficial da Policia Judiciária confirmou as buscas no Estádio da Luz e até agora já há seis arguidos confirmados, entre os quais sociedades ligadas aos encarnados.

A investigação procura “esclarecer se os montantes faturados por várias empresas ao Benfica tinham na sua base efetivas prestações de serviços ou se foram apenas uma forma de justificar a saída de alguns milhões de euros das contas dos encarnados”. Por outras palavras, o MP e a PJ desconfiam de lavagem de dinheiro na Luz.

O Benfica começou por negar a notícia do Jornal de Notícias que denunciou o caso, dizendo ser difamação, mas mais tarde a Procuradoria-Geral da República confirmou buscas que contaram com 25 inspetores da PJ resultaram seis arguidos, oito mandados de busca e uma quantia de 1,9 milhões de euros de uma suposta prestação de serviços de consultoria informática.



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